Nesta quarta-feira (29) o blog do Ney Lima fez uma entrevista com a transexual Érica Thawany Adelino Leal. Érica, cujo nome verdadeiro será omitido, trava uma batalha que se arrasta há quase dois anos na Justiça para que o nome social (pelo qual costuma ser chamada no dia a dia) passe a também constar em seus documentos e registro de nascimento.
A primeira audiência para tratar do caso será realizada na manhã desta quinta-feira (30) no fórum municipal e, há poucas horas do momento, Erica falou sobre o caso que, segundo ela, é uma forma para que outras transexuais se incentivem a batalhar por um direito que é garantido por Lei.
Erica também vem sendo acompanhada, de perto, pela Coordenadoria da Mulher, em Santa Cruz do Capibaribe, local onde obtém apoio psicológico de uma profissional.
Desde os 10 anos. Vim a perceber quando era criança, mas percebia que aquele não era eu. Com 15 anos veio a cair a ficha que eu não queria viver uma vida dessa, a vida que meus pais me criavam. Minha mãe queria isso para mim, mas não era aquilo que eu queria… Era de homens que eu gostava, que eu amava e não mulheres. Mulher sou eu.
Minha luta foi muito grande, mas não com família e sim com a minha mãe. Hoje estou aqui contando vitórias e minha mãe é uma amiga. Tirei o nome do meu pai e estou colocando o da minha mãe por respeito a ela e para mostrar que sou filha dela, que vou dar orgulho e ela hoje é a minha amiga.
Ela iniciou através de uma denúncia feita através do Disque 100. Foi feito um encaminhamento, conheci um advogado, a psicóloga e uma secretária. Por conhecimento do meu dia a dia, a advogada decidiu entrar nessa luta comigo, de colocar no meu registro (de nascimento), o meu nome social. Já viemos lutando há dois anos para que essa audiência aconteça e, enfim, chegou o dia.
Ela é a primeira neste sentido. Estou ansiosa, nervosa, por eu ser a primeira. Já houve um caso no Recife que se conseguiu mudar para o nome social no registro. Espero que eu possa conseguir.
Me preservo muito no meu dia a dia. Procuro mostrar a sociedade respeito, para que eu venha receber respeito. Sou do trabalho para casa, é muito difícil estar em festa ou em rua. Sei que outras pessoas não se dão o respeito quando se fala de uma transexual, mas muitas pessoas não conhecem. É necessário conhecer a vida de uma transexual para poder julgar. Eu vivo uma vida muito boa e graças a Deus, as pessoas me aceitam muito bem.
Isso existe sim. Existe e luto contra esses fatos que ocorrem em minha vida, mas de pouquinho em pouquinho eu chego lá.
Com certeza! Essa luta não acaba por aqui. A mudança de sexo… A adoção de um menino, que quero muito ter um filho… Isso não termina não. Enquanto eu estiver viva, eu vou continuar lutando pelos meus direitos e de todas. Não estou falando só por mim, mas por outras (transexuais) que tem tanta vontade como eu (de mudar de nome), mas as vezes não se expõem por causa da sociedade.
Procurei sim, mas fica um pouco difícil para mim, por morar aqui em Santa Cruz. Tentei fazer a cirurgia no Hospital das Clínicas em Recife, mas como a fila é enorme e como é pelo SUS, eu preciso passar por uma psicóloga, pois a aprovação dela é necessária para que eu possa fazer essa cirurgia. Vai ser um pouco difícil, é uma luta grande, mas vou conseguir.
Quando eu perguntei, quando fui saber, tinha 189 pessoas e, todo mês, era feito apenas uma cirurgia, caso eu fosse a número 190. Como eu não fui para a lista de espera, pode ser que tenha aumentado ou não.
Vou recorrer, vou continuar. Quero garantir um direito que sei que também é meu.