09
julho

Blog conversa com Ericka Thawany, primeira transexual de Santa Cruz a realizar a cirurgia para mudança de sexo


Reportagem Especial

Na tarde desta segunda-feira (09) o blog divulga a entrevista produzida com Ericka Thawany Adelino Leal, primeira transexual de Santa Cruz do Capibaribe a conseguir dois feitos até então incomuns para a realidade local.

Militante de movimentos LGBT, Ericka teve suas batalhas na justiça contadas em duas reportagens realizadas pelo Blog, uma em 2015 e a outra no ano passado (as duas podem ser lidas na íntegra, clicando nas imagens correspondentes). As lutas, segundo ela, tiveram origem depois de esta ser vítima de homofobia, onde orientada por um advogado e outros profissionais, buscou seus direitos garantidos por Lei e foi mais além.

O primeiro desses feitos foi alcançado ainda no primeiro semestre de 2017 quando, após quase quatro anos de batalhas judiciais, conseguiu ter seu nome social mudado para nome oficial em seus documentos pessoais.

Já o segundo foi concretizado no primeiro semestre deste ano, quando ela se submeteu ao procedimento cirúrgico para mudança de sexo, realizado em março. Recuperada e com sua vida de volta à normalidade, ela falou sobre esse desfecho de seu caso.

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Blog – Como foi esse acompanhamento até a realização da sua cirurgia?

Erika – Não tinha o conhecimento que o Hospital das Clínicas (em Recife) estava realizando essa cirurgia. Fui para uma festa em Caruaru, onde encontrei com meu psicólogo, que foi uma das pessoas que me ajudaram nessa mudança do nome. Me encontrei com ele em um ponto de ônibus, parece até destino… E ele me perguntou se eu tinha a necessidade em fazer essa cirurgia. Falei para ele que era meu desejo desde os 15 anos e ele falou para mim que me ajudaria e ajudou. Com algum tempo depois, ele colocou meu nome no hospital e recebi todo o acolhimento de lá. Entraram em contato comigo, marcaram uma consulta e que foi o começo de tudo. Quando o hospital me acolheu, tive apoio psicológico, hormonal e isso me tornou uma pessoa mais forte. Hoje tenho um pensamento bem mais centrado, firme. Me prepararam muito bem. Tive acompanhamento médico e, depois dessa cirurgia, foi um passo muito grande na minha vida. Pensei que essa cirurgia mudaria apenas uma parte de meu corpo que eu sentia essa necessidade, mas foi bem além disso. Essa cirurgia foi um passo grande que eu dei, que todas as mágoas que me fizeram, de tudo o que eu passei depois que eu cheguei aqui, os obstáculos que venho enfrentado, as pessoas que fizeram mal, que me apontaram ou xingaram, não tenho mais mágoa. Se não fossem por elas, não tinha chegado onde cheguei.

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Blog – Quanto tempo esse procedimento durou e como foi esse seu período de recuperação?

Ericka – Foram em torno de oito horas de cirurgia. Foi bem tranquila. Passei cinco dias internada, sem dores… Tive alta, fui para casa e fiquei em repouso esses meses. Completo três meses (da realização da cirurgia) agora em 10 de julho e não tenho o que reclamar.

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Blog – Com relação a sociedade… Mudou alguma coisa agora que você assumiu seu lado mulher, agora também nessa questão física?

Ericka – Quanto a sociedade… Na verdade, eu passo bem despercebida; não sofro tanto quanto as outras transexuais em relação a discriminação, mas sei que tem muita discriminação aqui em Santa Cruz. Conheço histórias de amigas que sofrem muito preconceito. Eu, graças a Deus, não venho tendo dificuldades quanto a isso de discriminação aqui, a não ser quando uma pessoa quer realmente me ofender quando sabe de onde eu sou ou de onde vim, de toda a minha história. É como lhe disse: depois da cirurgia, não é que a sociedade possa mudar para mim. Eu tenho outros olhares, vivo outros horizontes e não existe mais aquela Ericka que possa guardar mágoas de tal pessoa. Estou muito bem com meu corpo e espiritualmente. Foi algo tão desejado, deu tudo tão certo nessa minha cirurgia que minha alta…. Em tudo deu certo. A minha alta foi em um domingo e estava sem carro para vir a Santa Cruz. Foi quando entrei em contato com a secretária de Alessandra Vieira (de Cidadania e Inclusão Social), Silvinha, disponibilizaram o carro para me pegar no hospital e me trazer para casa. Hoje, eu me fortaleci mais ainda.

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Blog – Terminado todo esse processo, como fica suas lutas nos movimentos LGBT e também ao futuro?

Ericka – Quanto ao lado LGBT, sou uma guerreira que nunca vou abrir mão disso. Quero estar lutando contra a homofobia e contra as agressões. Quero sempre estar em movimentos LGBT… Mesmo depois dessa cirurgia, isso não vai mudar de jeito nenhum. Não quero esconder minha história, me mudar ou sair do país para esconder quem eu sou, mas mostrar as pessoas essas batalhas todas para que outras transexuais se identifiquem e possam se fortalecer com minha história e ir a luta. É uma pauta muito grande. Existe muito preconceito ainda e não é agora que vou largar. Estou sempre ali na causa LGBT e quero continuar a participar. Quero sim me expor e estar de mãos dadas.

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Blog – E a sua vida pessoal?

Ericka – Quanto a minha vida pessoal, ela está tomando um novo rumo, novo horizonte. São coisas que vão acontecendo naturalmente. Sobre filhos… Agora acredito que não. Quero estar bem estruturada e poder dar tudo de melhor. Se possível, se eu puder adotar uma criança, quero dar a ela o que eu não pude ter, mas agora não penso nisso. Veio a cirurgia, depois vai vir minha casa própria e depois, quando estiver estruturada, quero completar a minha família.

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Blog – Agradecemos pela entrevista e fica aqui o espaço aberto para que você possa deixar sua mensagem.

Ericka – Quero agradecer a todos aqueles que me apoiaram, principalmente a minha mãe, que sempre esteve comigo. Essa cirurgia, como tinha falado, mudou tanto a minha vida que deixou todas essas mágoas para trás. Quero agradecer a minha mãe por ter formado o meu caráter, a meu irmão por ser persistente nas minhas lutas e por me fazer ser persistente. Quero também agradecer todos aqueles que fizeram parte dessa batalha: a Gilson Julião, Clarisse Carvalho, Iana Paula, a então secretária Alessandra Vieira, a Silvinha, a Flávio Júnior e Marina Hazin, minha fisioterapeuta. Agradeço também ao meu urologista Dr. Rogerson Andrade e a minha psicóloga Dra. Mônica e sua equipe e claro: ao jornalista Thonny Hill e ao Blog do Ney Lima, que acompanharam tudo de perto.

 

Ericka Thawany, ao lado do jornalista Thonny Hill

Um Comentário

  1. Erica disse:

    Isso não foi um prazer foi um prazer levar toda essas informações ao público do blog do blog do Ney Lima nevando conhecimentos para que as pessoas cidadão e Cidadã possa se sensibilizar com a causa LGBT somos todos ser humanos e somos existentes nós temos que nos por impor respeito agradeço muito muito mesmo ao blog Ney Lima

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