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setembro

Nova série do Blog – Passado e presente da Festa de Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel


Prestes a comemorar 152 anos, Festa de Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel é objeto de pesquisa que atesta sua importância como principal difusor da identidade religiosa de Santa Cruz

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Procissão de São Miguel no ano de 1987

O blog do Ney Lima inicia, nesta quinta-feira (22) uma série de reportagens com foco na festa mais tradicional de Santa Cruz do Capibaribe, que é a Festa de Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel.

O intuito é mostrar para os leitores o resultado de uma pesquisa realizada pela Comissão de Levantamento Histórico da Paróquia de Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel, pesquisa que começou há quase dois anos e ainda segue em andamento.

A pesquisa sobre os festejos e a devoção dos santos no município foi feita não só em Santa Cruz, mas também em cidades de Bezerros, Taquaritinga do Norte e Barra de São Miguel, na Paraíba.

Para essa primeira reportagem, mostraremos informações e documentos relacionados a origem da devoção a São Miguel no município, que já tinha devoção a Bom Jesus dos Aflitos graças ao fundador da Vila de Santa Cruz, Antônio Burgos, e a formação da Irmandade de São Miguel, que durou quase 50 anos.

A festa de Bom Jesus dos Aflitos sempre acontecia, originalmente, em 01 de janeiro. As duas festas se unificaram somente na década de 1990.

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Imagens atuais de Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel na Igreja Matriz

O início da devoção a São Miguel em Santa Cruz

De acordo com os dados levantados na pesquisa, a criação de uma irmandade, importantes na estrutura devocional no período, se fazia necessário em Santa Cruz.

Segundo Marivaldo Andrade, que faz parte da Comissão de Levantamento Histórico, essa irmandade surgiu em 29 de setembro de 1864, sendo formada por membros de famílias que detinham relativo poder aquisitivo no município como fazendeiros e comerciantes.

A primeira missa em devoção ao santo foi celebrada pelo Padre Francisco das Chagas Bezerra de Aveloz paróquia de Taquaritinga do Norte, dando continuidade a devoção ao Santo que foi iniciada na vila pelo Padre Ibiapina, devoção que se popularizou com o passar dos anos.

Os objetivos dessa irmandade seriam o de administrar a questão fúnebre das famílias participantes, administração e manutenção do primeiro cemitério, celebração de missas de corpo presente, eventos religiosos entre outros, além da construção da parte principal daquela que hoje é Igreja Matriz, situada a Avenida Padre Zuzinha.

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A ata que comprova, segundo ele, a criação dessa irmandade e o início da devoção ao santo no município

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Blog teve acesso, com exclusividade, a ata que oficializava a Irmandade de São Miguel, documento de 29 de setembro de 1864

Marivaldo destacou as primeiras famílias participantes e mostrou a cópia de uma ata, que mostra a criação dessa irmandade, que foi instituída pelo Padre Ibiapina durante sua passagem na localidade a época.

“Dentro dessa primeira estrutura para criação dessa irmandade, que posteriormente são pessoas de renome na comunidade primitiva de Santa Cruz, tínhamos as famílias Glicério, Ferreira, Nascimento, Pereira, Lima, Souza, Viturino, Evangelista, Siqueira… Tínhamos essas famílias e não localizamos nessa fundação outras tradicionais aqui como as famílias Aragão, Balbino e Aragão. Elas vão surgir já no início do século 20” – disse.

Ainda segundo Marivaldo, essa irmandade, na qual apenas homens faziam partem, durou até o ano de 1912, data que, segundo o mesmo, consta em livros da própria igreja. A participação feminina aconteceu poucos anos antes da mesma encerrar suas atividades.

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Estandarte pertencente a Irmandade de São Miguel do final do século XIX

Confira o texto transcrito da ata que marcou a fundação da Irmandade de São Miguel, com algumas correções de pontuação:

Hoje, quinta-feira, 29 de setembro de 1864, na Capela de Santa Cruz, foi instalada a Irmandade das Almas do Arcanjo de São Miguel e, reunidos: os irmãos presentes; o reverendo pároco desta freguesia, Francisco das Chagas Bezerra de Aveloz Maria, o qual assistiu a criação da mesma irmandade aonde celebrou a missa de festividade do Arcanjo São Miguel e, por sua oração análoga ao pensamento de Cristo.
Reunidos, os irmãos passarão a proceder Eleição da nova mesa diretora que tem de rezar de hoje até o dia 29 de setembro de 1865, cuja consta do Juiz Escrivão, Tesoureiro e Procuradores, com 12 mesários e, passando-lhe, anotarão a abstenção, por unanimidade para Juiz, o senhor Francisco Glicério passos de Maria; para Escrivão, José Ferreira de Maria; para Tesoureiro, o senhor João Ferreira Melo e, para procuradores, os senhores José Ramos de Maria e Manoel Gonçalves da Costa Maria.
Passando-se a eleição dos mesários, foram eleitos os senhores Marcos Evangelista de Siqueira, José Joaquim de Lima, Pedro Serafim Pereira, Pedro Felisberto Pereira, Pedro Ferreira da Costa, Luiz José de Sousa, Francisco Leão de Maria, Glicério Ferreira do Nascimento, José Pio Pereira Junior, Francisco Victorino da Costa, Manoel Francelino Ferreira, Severino Evangelista de Siqueira Maria.
Em seguida, foram empossados Juiz, Escrivão, Tesoureiro, Procuradores e juntamente a mesma. Eleito, o irmão tesoureiro recebeu, em mesa, a quantia de 134 000 de cujo e passou o competente recibo, cujo ficou em poder do irmão Juiz.
Por nada mais haver, se declarou que se deu por fim a sessão em que assinarão os irmãos presentes. Santa Cruz, 29 de setembro de 1864.

O aumento da devoção ao Santo, que teria ofuscado Bom Jesus dos Aflitos

De acordo com dados obtidos na pesquisa, o aumento da devoção ao Santo aconteceu ainda no começo do século 20, após um grande período de seca.

Com a cultura do plantio e beneficiamento do algodão em crise pela falta de chuvas, um dos fazendeiros a época, Francisco Barros, fez uma promessa ao santo de que, caso as chuvas chegassem, uma grande imagem do mesmo seria construída e doada capela que já existia no município: a capela de Santa Cruz.

“Essa imagem temos hoje na igreja, com mais de um metro, maior do que a imagem anterior e realizaria uma grande festa. Com as chuvas, a festa de São Miguel tomou ainda mais gosto e se tornou uma referência maior de devoção do que o próprio padroeiro, que era Bom Jesus dos Aflitos. Hoje, São Miguel continua como co-padroeiro, mas com a chegada de Monsenhor Heleno, houve a junção das duas festas” – disse Marivaldo.

Na segunda reportagem, traremos mais fatos sobre os festejos, a partir de 1912 a 1940, com o crescimento da devoção aos santos.

Fotos cedidas pela Comissão de Levantamento Histórico da paróquia de Bom Jesus dos Aflitos e São Miguel

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