03
setembro

Da série – Novos perfis na política da Capital da Moda


 “O vereador tem a possibilidade de transformar a vida das pessoas” – afirma estudante Paulinho Coelho

 

Foto: Thonny Hill

Continuando a série de entrevistas sobre novos perfis na política santa-cruzense, o Blog do Ney Lima entrevista o estudante de direto Paulo Roberto Martins Coelho. Com 29 anos e nascido no estado de São Paulo, Paulinho Coelho, como é mais conhecido em Santa Cruz do Capibaribe, é o atual presidente local do Partido Comunista do Brasil (PC do B) desde 2013, é militante político desde os 14 anos e já foi candidato a vereador no município nas Eleições 2012.

 

Na realidade política da Capital da Moda, o estudante militou pelo grupo de Oposição por vários anos, mas recentemente aderiu ao projeto político do prefeito Edson Vieira (PSDB). A mudança rendeu uma junção política PC do B / PSDB, algo que seria improvável em muitos cantos do país e que enfrentou resistência, especialmente de quadros mais antigos da legenda no município.

 

Confira a entrevista:

 

Blog – Como foi que despertou em você o interesse pela política?

 

Paulinho – Posso dizer que sou militante político desde os 14 anos. Em 2000, me lembro de ter participado de uma campanha de vereador, uma amiga de meus pais, que era militante do PT. Participei de algumas atividades e escutei o discurso do candidato a prefeito da época, que era ligado a sindicato. Fiquei encantado com aquilo e pensei: “Existe um motivo para as pessoas fazerem isso aqui” e entrei de cabeça. Em 2002, veio a eleição de Lula, um sentimento nacional que clamava por mudanças já que sofríamos na pele os efeitos do segundo governo Fernando Henrique. Ali eu já respirava política. Em 2004, fiz campanha para um candidato a vereador e, em 2005, cheguei a Santa Cruz.

 

Blog – Como foi sua entrada no PC do B?

 

Paulinho – Comecei a estudar sobre como se fazer uma sociedade mais avançada através da política e vi o PC do B, de extrema esquerda, com uma característica bem diferente dos demais partidos; que consegue dialogar. Me aproximei sem uma filiação, mas era casado, tive uma filha e me afastei da política por um tempo. Quando me separei, minha esposa voltou para São Paulo. Foi complicada para mim essa fase e tive que retomar algumas coisas, como a música. Retomei isso, entrei para uma banda aqui em Santa Cruz e conheci o pessoal do PC do B daqui na campanha para vereador de Willamy Feitosa em 2008, que me surpreendeu. Uma cidade pequena, de interior, ter uma candidatura de verdade, ideológica do partido, uma “galera massa”, um pensamento avançado e organizado… Um PC do B de verdade e entrei de cabeça, coordenando campanha e atividades. Pouco tempo depois, assumi a presidência da União da Juventude Socialista (UJS), comecei a ter mais contato com o Movimento Estudantil e em 2012, para minha surpresa, recebi a indicação para candidatura (a vereador). Deu uma reviravolta grande na minha vida: ser candidato, carregar o discurso, a bandeira e os 93 anos de história do partido. Fazendo uma analogia, é como alguém que torce para um time de futebol poder entrar em campo com a camisa do time em final de campeonato. É tudo o que você acredita sendo depositado em seu nome. Foi sensacional.

 

Blog – Qual a diferença de antes militar pelo grupo de oposição e agora pelo grupo de situação? Qual foi a gota d´água para que o PC do B decidisse se aliar com o PSDB que, em tese, tem ideias antagônicas?

 

Paulinho – Em tese não; o PSDB e o PC do B são antagônicos, assim como o PT e o PC do B também são. O Partido Comunista só se assemelha ao Partido Comunista e mesmo assim, alguns partidos que seriam de extrema esquerda também tem um choque muito grande. A questão foi a seguinte: O partido nasceu aqui, no início da mobilização, com Carlos Lisboa, com (o vereador) Deomedes, com Tallys Maia e o próprio Willamy. Nasceu de uma composição de que existem os dois grupos políticos. Até um passado recente, identificávamos um grupo como mais de esquerda e outro mais conservador e, por si só, isso já causava um empecilho. Em 2000, tivemos o lançamento de candidatura, mas ela foi uma legenda para somar uma chapa, não existia a organização ideológica. Daí pra frente, com a chegada de uma série de pessoas que já se identificavam com o direcionamento ideológico, com o entendimento da sociedade que acreditamos ser ideal e, em 2012, isso se perdeu. Vejo nomes de Oposição hoje como grandes conservadores e vejo que o grupo de situação tem seus setores conservadores e progressistas, convivendo e fazendo essa construção, mas existe essa questão do diálogo e da autonomia. A gota d´água foi Edson e seu grupo à frente do governo em provar que eles poderiam ser mais avançados e progressistas.

 

Blog – E como seriam esses avanços?

 

Paulinho – A Gestão de Cultura, o trabalho desenvolvido por Gilberto Geraldo; o trabalho desenvolvido por Clarissa Carvalho na Coordenadoria da Mulher, as indicações para a Coordenadoria de Juventude… Você vê uma preocupação que essas áreas específicas sendo colocadas nas mãos de pessoas com uma construção voltada para a militância social e alguns setores que vemos muito avanço, um choque muito grande…

 

Blog – Isso quer dizer que você vê o PSDB com mais cara de uma “esquerda progressista” da que, supostamente, o grupo de Oposição falava anos atrás?

 

Paulinho – Eu vejo; vejo inclusive uma preocupação do próprio Edson. Quando fizemos a composição com o Governo, um jornalista perguntou para mim se isso não gerava um constrangimento a gente compor com o PSDB por ser um partido de direita… Edson disse que não se considera “de direta”, até porque isso é um conceito muito subjetivo. Mas a boa vontade política do governo hoje é que se mostre uma gestão de avanço, de uma linguagem, um discurso e postura com a população mais avançados. Isso quebrou alguns paradigmas, algumas formas de se fazer política de forma mais provinciana. Vejo Santa Cruz mais próxima do presente, ficamos muito atrelados ao passado, inclusive na forma de se encarar os grupos e isso, por muito tempo, foi quase inquestionável. Isso está mudando, não no ritmo que queríamos, mas está mudando. Eu vejo que ainda existe um grupo taboquinha, mas do outro lado, existe um grupo de pessoas e de ideias acerca de um projeto de cidade. Isso a gente não enxerga na Oposição há muito tempo. Existe a questão de que nós queremos o poder porque os taboquinhas tem que estar no poder. Não existe uma discussão progressista.

 

Blog – Você quer dizer com isso que o que existiria na Oposição seriam os interesses pessoais do que o do coletivo?

 

Paulinho – Sim, ou pelo menos um coletivo, mas de forma restrita para se ter um grupo específico no poder. Isso ficou marcado desde as eleições de 2012, tivemos poucos espaços para debates. Não existia uma reflexão do que se levou a derrota, não se era levado a sério. Não se existia, tipo… “Agora estamos nesse ponto e vamos ir para este ponto”… Esse diálogo, nós conseguimos encontrar no grupo que hoje é situação, principalmente na forma respeitosa como foi feita a abordagem ao PC do B. Edson nos procurou em 2011 e depois de eleito, continuou nos procurando. As tentativas de diálogo foram com pessoas que conseguem entender nossa forma de política e o mais forte foi o respeito dado ao partido. Temos uma rotina militante, uma vida militante, um partido organizado e não um grupinho de amigos. É um governo amplo, plural, que a gente sabe que vai dialogar, inclusive, com setores mais conservadores. Isso faz parte, é normal, mas temos que impor o pensamento de mostrar os benefícios que isso pode trazer para a sociedade e isso tem sido encarado (pelo atual governo) de forma séria.

 

Blog – Como você enxerga o atual momento político de Santa Cruz do Capibaribe, tanto no grupo de Situação como de Oposição?

 

Paulinho – Eu acho que a política nossa reflete muito do que é a política nacional e estadual; que é uma política feita de valores distorcidos. O debate político nunca vai para o caminho que tem que ir, que é debater o impacto da política na vida das pessoas. Isso é intencional, porque é mais fácil se debater assim. Vemos ainda a nossa Câmara de Vereadores, que passou de 10 para 17, por si só isso deveria promover uma renovação. Ela ganhou nomes que nunca estiveram lá, diminuiu sua média de idade, mas pelo que a gente vê, acompanha e que as pessoas falam pelos espaços de debate que temos, é difícil se enxergar incluído na pauta de discussões na Câmara enquanto povo. Existe um descrédito total do povo com a política, com os políticos e instituições. Isso é triste e podemos perceber isso nas mobilizações. Existe muito personalismo e essa cidade está não está fora disso.

 

Blog – Com esse seu argumento, isso quer dizer que a atual Câmara não comunga com as ideias de sua legenda?

 

Paulinho – Não, nem de longe! Respeitamos as pessoas que estão lá são legítimas, representantes do povo porque foram eleitas para isso. Tem suas virtudes, tem o seu direcionamento positivo e, as vezes negativo. Vou dar um exemplo: no Congresso Nacional, existem as bancadas religiosas, socialistas, ligadas ao empresariado, aos latifundiários… Aquele “Lob” implícito. As pessoas estão ali representando os interesses de quem as elegeu e na Câmara não, eu acho ela muito homogênea. Tem os grupos políticos da cidade lá dentro.

 

Blog – Mas não tem os interesses de grupos?

 

Paulinho – Não tem. Não vejo esse direcionamento ideológico dos setores dentro da Câmara, até porque não existe agrupamentos, temos um grupo fechado de um lado e de doutro. Não tem dois ou três que se organizem para pensar quem questões trabalhistas, porque são ligados a sindicatos; dois ou três que pensem em debater uma política de assistência estudantil por terem sido do movimento… Temos ações pontuais. Grandes avanços inclusive como o Bolsa Universitária, mas é tudo muito pontual, não uma postura política. Existem ações aleatórias, positivas e que bom que elas existem, mas existe pouca militância política na Câmara e a gente precisa disso: fazer o debate de sociedade lá dentro. Vejo a Câmara fazendo o debate puramente político, dos grupos políticos. Ela debate pouco a cidade, a sociedade e os efeitos que a política tem diretamente na vida do povo, que é o mais importante.

 

Blog – Você falou a palavra renovação. Como seria esse conceito e como ele se aplicaria na Câmara?

 

Paulinho – A renovação tem que ser no sentido do debate, nas ideias… Uma renovação no sentido de entender as demandas da sociedade. Um exemplo: temos um vereador jovem disseminando o machismo há uns dias atrás… Isso é uma contradição, um retrocesso absurdo! Precisamos de um debate mais avançado mesmo. Nossa Câmara tem traços muito conservadores, mas que não pode ser totalitário. Temos que ter uma maior diversidade de pensamento. Renovar é isso: colocar outras pessoas que atendam outras demandas, que entendam o funcionamento da sociedade de outra forma, que entenda da garantia de direitos de outra forma, da conquista de espaço, da forma de dar assistência as pessoas e que consiga pautar o Legislativo (Câmara) para além de cumprir as demandas do Executivo (prefeitura) em ser a “favor ou contra” por conta de grupos políticos. Um exemplo: tivemos a votação do Plano Municipal de Educação. Faltou possibilidade de debate, de se colocar um contraponto e se ouvir ideias de várias formas porque foi meio que homogêneo o pensamento dentro da Câmara.

 

Blog – Você se refere a questão da retirada do artigo que tratava a questão do Debate de Gênero nas escolas?

 

Paulinho –  Isso! Da questão de se debater a sexualidade, a diversidade. Eu como professor, vivo isso dentro da sala de aula. Esse debate não só é necessário como acontece; é natural. Temos que preparar o indivíduo para a vida. Existe, e aí é que as pessoas não entendem e colocam a questão da “Proteção da Família”… Proteger a família implica em formar cidadãos mais politizados, desde as classes menores. Cada família tem as suas convicções, mas a sociedade tem valores coletivos em que esse cidadão tem que estar inserido. Tem algumas convicções que podem servir para ele dentro da família dele, mas ele tem que estar preparado para outras coisas também. Não adianta querer “proteger” o indivíduo de tudo e isso é o que me deixa mais triste:  que se fala muito em “desvirtuar” as pessoas quando se fala em proteger a família, que é um conceito arcaico a visão tradicional… O que se quer é inserir essa família dentro da sociedade e saber que ela é diversa, plural, que cada sujeito tem que estar preparado para essa pluralidade. Garantir a possibilidade do debate é importante.

 

Blog – Falando agora dos dois principais líderes políticos. Como você vê José Augusto Maia e Edson Vieira citados em polêmicas? O ex-deputado no suposto desvio de merendas e o prefeito no suposto desvio de recursos com a locação de veículos… Como você vê essas duas realidades sendo postas para a população?

 

Paulinho – Temos um problema sério que é o funcionamento de nossa política, de fazer o debate em cima dessas coisas. Na prática, o que existe? O processo de José Augusto deu em que? Não consigo entrar num mérito do que é “certo” ou “errado” em uma coisa que é de competência da justiça. Taxar político de ladrão é triste. A gente não entra nesse debate porque existe os órgãos de proteção do erário público e qual a função deles? De fiscalizar, identificar possíveis erros, analisar, por culpa em quem tiver culpa e ponto. Não sei o que existe de concreto no caso de José Augusto… Eu acho que ele é um cara que, politicamente, não me representa, que é muito difícil de se fazer uma construção política, que vem pregando valores conservadores e não nos serve como liderança. Eu vejo Edson como um cara que está muito propenso de avançar politicamente, que se cercou de pessoas que tem muito a contribuir, que não vão simplesmente aplaudir tudo o que ele fizer. Essas polêmicas… Tudo tem que ser apurado; se for apontado um culpado, tem que ser responsabilizado e ponto. Isso é trabalho do Ministério Público, da Justiça. A gente debate política e isso não deve servir como debate político. Isso é muito ruim. Inclusive, eu considero como um erro esse debate, nas eleições de 2012 ter sido em cima dessa questão da merenda, assim como eu considero um erro se formos levar nossa política para esse lado de debater supostos crimes… Possibilidades de erros… A cidade tem um monte de demandas para resolver e se fica preso nisso. Isso são assuntos para a Justiça resolver, a quem compete resolver. É mais fácil se debater assim do que se debater a cidade.

 

Blog – Você foi candidato a vereador uma vez e agora vai encabeçar uma segunda campanha. Qual vai ser a bandeira que você vai firmar junto ao seu eleitorado para conseguir êxito?

 

Paulinho – A bandeira vai ser a mesma: trazer a sociedade para o debate no Legislativo. A bandeira é você direcionar projetos de lei, requerimentos, a prática diária, o discurso, a importância do cargo político do vereador em impactar a vida do povo. O papel do vereador é o de buscar políticas públicas e pensar como a política pode interferir na vida das pessoas. O que que eu posso fazer, com quem eu tenho que conversar para entender o funcionamento de certos setores da sociedade e fazer com que o Estado chegue a essas pessoas. Com que eu tenho que conversar, onde eu tenho que ir… Aqui, parece que a eleição nunca acaba, os discursos são muito parecidos com os de campanha e os momentos tem que ser separados. A vivencia política é outra e isso requer outras coisas. O papel do vereador é de estar próximo do povo, é o representante direto. O vereador joga um papel de extrema importância e ele tem a possibilidade de transformar a vida das pessoas desde que ele se proponha a ir até as pessoas. O cara que entra pensando na sua próxima eleição, vai dar errado porque essa conta não fecha. Ali não é espaço para isso.” – concluiu.

Um Comentário

  1. Paulinho Coelho disse:

    É possível disponibilizar o áudio da entrevista na matéria?

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