Transferência de paciente gera bate-boca entre médicos do Hospital e do Samu
Irmã da paciente relatou que o Samu teria se negado a realizar a transferência
Na manhã dessa quarta-feira (09), uma confusão foi registrada no Hospital Municipal entre o médico que estava de plantão, familiares de uma senhora que estava internada e o médico do Samu.
Para a família, o médico do Samu teria se negado a realizar a transferência da paciente e que, inclusive, teria havido um bate-boca entre o médico do Hospital e do Samu.
Já o Hospital Municipal culpa a Central de Leitos, órgão que regula a distribuição das vagas em hospitais, por erros que ocasionaram a demora da trânsferência.
O Samu acusa o médico do Hospital Municipal, afiramndo que o quadro clínico que a paciente estava não precisaria de uma Unidade de Suporte Avançado, podendo ela ter sido transferida em uma ambulância básica.
Confira as versões do caso:
Versão da Família: Médico do Samu omitiu socorro a paciente
Segundo relatos de Dona Inácia (irmã da paciente), Maria José Pereira (43 anos e residente no Bairro Arcoverde) foi levada ao hospital no final da noite de segunda-feira (07), passando mal e precisaria ser transferida, mas a vaga só foi conseguida na madrugada dessa quarta-feira (09) para o Recife.
A transferência, segundo ela, deveria ter sido feita por uma ambulância do Samu a 0h30 para o Hospital Agamenon Magalhães (em Recife), mas o Samu não teria aparecido para realizá-la.
Dona Inácia relatou que o Samu só teria chegado na manhã, passado quase 8 horas do horário anterior, marcado para a transferência. O médico do Samu teria, inclusive, se negado a fazê-la, o que fez com que houvesse um bate-boca entre um médico do Hospital e do Samu.
“A Central do Samu falou que vinha meia noite e meia para a transferência. O Samu veio dar as caras hoje e disse: Vou avaliar ela. Não olhou para a cara dela, entrou lá para dentro e conversou com o médico (do hospital). O médico (do hospital) pediu para levar e o médico do Samu disse assim: Não levo, não levo, não levo e pronto”, foi embora sem dar explicação. A única explicação que ele (o médico do Samu) deu foi que chegaram ontem duas horas (da manhã) e que não ia (fazer a transferência) e pronto. Ela não pode ir de ambulância, só na UTI do Samu mesmo”, relatou dona Inácia.
A irmã da paciente afirmou que ia fazer uma queixa na delegacia contra o médico do Samu por omissão.
Versão do Hospital: Erros da Central de Leitos causaram a demora na transferência
Segundo Elaine Silva, diretora administrativa do órgão, houve sim uma demora na transferência, mas não por culpa do Samu e sim de erros cometidos pela Central de Leitos.
Elaine relatou que Maria José Pereira teria dado entrada às 23h20 de segunda-feira (07) e o médico que estava de plantão viu a necessidade de que a transferência dela fosse feita.
A diretora relatou que contatos foram feitos para a Central de Leitos, órgão que regulamenta a distribuição de senhas, que garantem vagas em hospitais. A primeira senha foi pedida e haveria uma vaga no Hospital Agamenon Magalhães no Recife. O médico de plantão fez contato com o hospital para confirmar a vaga, mas a mesma não existia.
A paciente passou toda a terça-feira (08) em observação, sendo medicada. Um segundo contato teria sido realizado na terça-feira para o Hospital Regional do Agreste, mas também não havia vagas naquela unidade de saúde.
Enquanto isso, Maria José Pereira ficou em observação durante todo o dia, realizando exames e foi dito pelo médico de plantão do Hospital Municipal que ela estava com um quadro clinico mais grave (Infecção), e só poderia ser transferida por uma Unidade Avançada do Samu.
Elaine relatou também que a única ambulância do hospital, que atende também o Materno Infantil, estava em uma ocorrência no Recife, acompanhando uma gestante e a mesma só iria chegar na madrugada de quarta-feira.
Foi relatado que essa Unidade Avançada foi solicitada, mas que não poderia se deslocar ao hospital porque estava em uma outra ocorrência, restando somente a de atendimento básico, inviável para o transporte segundo o médico de plantão.
Chegando de madrugada, foi solicitado o transporte aéreo do Samu. Eles se dispuseram a transferir a paciente, mas só após as 8h, horário em que a unidade aérea estaria ativada. As 8h, o helicóptero não estava mais disponível e então a Central do Samu deslocou a Unidade avançada já na manhã desta quarta-feira.
A paciente foi avaliada e transferida para o hospital Agamenon Magalhães, por volta das 10h e se encontra com quadro clínico estável.
Versão do Samu: Demora pela tranferência foi devido a uma solicitação precipitada do médico do hospital, por uma Unidade de Atendimento Avançado, sem necessidade
O médico do Samu relatou que, por volta das 15h, 16h da terça-feira (08), a regulação do Samu teria enviado a equipe para fazer uma transferência do Hospital Municipal (HM) para o Hospital Regional do Agreste (HRA).
O médico relatou que se dirigiu ao Hospital Municipal e, segundo ele, Maria José Pereira estava com um quadro de saúde incompatível com o HRA.
O médico do Samu teria informado ao médico do HM que o HRA não receberia a paciente. Ainda segundo ele, o médico do HM teria entrado em contato com o médico do HRA e o mesmo teria se recusado a receber a paciente, onde, segundo ele o orientou para que buscasse uma nova senha, para que a transferência fosse feita.
“O médico solicitante (do HM) entrou em contato com o médico receptor (do HRA) e o mesmo informou que não aceitaria essa paciente porque, se tratava, a princípio, de diagnóstico inicial de um quadro de pneumonia. Eu prontamente informei ao médico que solicitasse uma nova senha que eu viria para remover a paciente. Eu como Samu, preciso saber para onde o paciente vai”.
O médico do Samu afirmou que fez a avaliação da paciente na parte da tarde, afirmando que ela não precisava de uma ambulância de suporte avançado, podendo ser transferida em uma ambulância comum.
“No momento inicial da avaliação, à tarde, a paciente não tinha indicação de unidade de suporte avançado. A paciente apenas estava dependendo do oxigênio. Ela poderia ser transferida em uma ambulância comum”, afirmando também que ela não precisaria ser entubada, destacou.
Após isso, o médico do Samu orientou que o médico do HM procurasse uma nova senha e que o Samu iria reavaliar a paciente.
Por volta das cinco, cinco e meia da manhã, o Samu recebeu uma solicitação de transferência e, quando chegou ao HM, era a mesma paciente. Questionando o médico do plantão no HM, o mesmo teria afirmado que abriu uma vaga a 0h30 e como a ambulância de Suporte Avançado do Samu estava em uma transferência, ele decidiu esperar a unidade de suporte avançado.
“Se ela estava tão grave assim, porque esperar? Ele (o médico do HM) disse que iria esperar a unidade avançada e ela só poderia ir na unidade avançada”, destacou, enfatizando que ela poderia ir em uma ambulância comum, mas com acompanhamento médico.
Ao final da entrevista, o médico relatou que o Samu não foi culpado já que, para se fazer o transporte, é necessário que haja um local definido para levá-la com segurança, vagas não conseguidas pelo médico do HM devido a erros da Central de Leitos.
Segundo o médico, o helicóptero chegou a ser solicitado e que ele vai a um local acima de 150 km, em casos graves ou não, para não deixar os locais, atendidos pelas ambulâncias, descobertos.