16
agosto

Artigo – Por Maurício Romão


RELATÓRIO DA REFORMA POLÍTICA TENTA PROIBIR DIVULGAÇÃO DE PESQUISAS ELEITORAIS

 

Na parte infraconstitucional do seu relatório sobre a reforma política, apresentado ontem na Comissão respectiva, o dep. Vicente Cândido propôs que as pesquisas eleitorais só sejam divulgadas até o sábado anterior às eleições, como forma de coibir levantamentos “fajutos ou “fraudulentos” (sic).

Suas excelências não param de ampliar o fosso que os separam da sociedade. Além de fundão e distritão-tampão, agora vem proibição.

A questão de controle metodológico e de divulgação das pesquisas é recorrente e há dezenas de projetos de lei no Congresso sobre o assunto.

Uns querem proibir a divulgação das pesquisas uma semana (caso de agora), 15, 30, 45 dias antes do pleito, tolhendo o legítimo direito do público à informação e, na verdade, privilegiando apenas aqueles que podem pagar por ela e dela dispor da maneira que lhes aprouver.

Outros intentam obrigá-las a consultar tantos por cento do eleitorado (um senador sugeriu num projeto de lei o mínimo de 0,01% do eleitorado, quer dizer, quase 15 mil entrevistas! Quem vai fazer uma pesquisa desse tamanho, quando se obtém os mesmos resultados com 2 mil eleitores? Um disparate).

Alguns tentam proibir que os institutos de pesquisa sejam contratados simultaneamente pela mídia e por partidos políticos ou candidatos. Outros, ainda, estipulam que a margem de erro deva ser no máximo de 1%, e por aí vai. Tais propostas agridem a evidência empírica, a ciência estatística e a lógica.

Tais projetam têm como pano de fundo a eventual capacidade dos levantamentos influenciarem o resultado eleitoral. Este é um assunto controverso. Com efeito, a distinção entre apenas aferir a opinião pública e influenciar essa opinião é temática não resolvida, teórica e empiricamente.

As pesquisas eleitorais exercem um importante papel de comunicação, que é o de expressar para a sociedade o que é que o eleitor está pensando sobre as eleições, quais são seus sentimentos e expectativas, quais suas preferências pelos prováveis candidatos, etc. Neste sentido, as pesquisas são apenas a caixa de ressonância do pensamento do eleitor.

Acontece que elas são protagônicas. Quando são publicadas passam a ser o farol que ilumina as discussões político-partidário-eleitorais. Daí por que são o alvo preferencial dos que se sentem prejudicados.

Para um candidato que está na frente em intenção de votos a pesquisa funciona como uma peça de seu marketing, assim como ele usa sua propaganda, seu jingle de campanha. A pole position lhe dá argumento para se apresentar como favorito, lhe credencia a estimular o voto útil – voto que premia quem está na frente nos levantamentos -, etc.

Quem está atrás na pesquisa, por sua vez, tenta desqualificá-la metodologicamente, colocá-la sob suspeição ética, etc., buscando, enfim, atingir sua credibilidade.

Em resumo, há relativo entendimento de que as pesquisas podem influenciar uma parcela do eleitorado, notadamente a de renda e escolaridade mais baixas, mas não a ponto de definir eleições. Ganhar eleição mesmo, quem ganha é o candidato, não é a pesquisa.

Por último, quem deve controlar as pesquisas é o mercado! Um instituto de pesquisa de opinião vive de sua credibilidade. Sua permanência no mercado político-eleitoral, que é bastante competitivo, depende crucialmente dos resultados que apresenta.

Portanto, se o maior atributo de um instituto de pesquisas é a sua credibilidade, por que decretar seu próprio fim, perdendo-a?

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As opiniões aqui expressas são de responsabilidade de seu idealizador

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