07
outubro

As histórias de quem fez história no Ypiranga


Ypiranga - Histórias Por onde anda

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“19 anos da minha vida foram dedicados ao Ypiranga” – declara o ex-goleador Tom Catanha

 

Tom Catanha Ypiranga-PE

Fotos: Elivaldo Araújo, Arquivo pessoal e Revista Placar.

 

O Blog do Ney Lima segue nesta quarta-feira (07), com a série de entrevistas intitulada “Por Onde Anda?”, que tem como objetivo destacar as principais personalidades que fizeram parte da história do Ypiranga ao longo dos seus 77 anos. Com relatos de atletas, treinadores, entre outras pessoas que participaram das alegrias e tristezas do clube, além de relatar o que eles fazem nos dias atuais.

 

Para esta sétima reportagem, a equipe da Avant Comunicação & Mídia recebeu o ex-goleador nato, Tom Catanha, atuou por 19 anos pela equipe alviazulina e é um dos maiores artilheiros da historia do clube, tendo a incrível média de 1 gol a cada partida.

 

Edson Antônio de Melo (56 anos), natural da Vila de Poço Fundo, zona rural de Santa Cruz do Capibaribe, fala sobre o seu início no Ypiranga, curiosidades sobre o futebol praticado na época do amador, além de relatar o que faz atualmente.

 

Confira a entrevista:

 

Blog – Como você surgiu no futebol e por intermédio de quem você veio parar no Ypiranga?

 

Tom Catanha – A minha mãe falava que eu sempre iria dormir com uma bola embaixo do travesseiro, de tanto que eu gostava. Eu comecei a jogar na Escola no Luiz Alves, as pessoas me viram jogando e então fui para o Cruzeiro de Nelson e Náutico de Dedé de Biu Santana, esses foram os meus primeiros times que joguei em Santa Cruz, então todos os jogadores do Cruzeiro foram para o ‘júnior’ do Ypiranga, que naquela época era o juvenil. Aos 17 anos, eu entrei em um jogo no lugar de Lagartixa, que era o centroavante, então eu entrei no lugar dele e fui logo fazendo gol, comecei a fazer muitos gols pelo juvenil e eu era entrando e fazendo gol até que um dia Surubim falou “o cara é esse mesmo”. Eu fui para o Ypiranga por intermédio do meu próprio futebol.

 

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Blog – Qual era a sua posição e principais características dentro de campo?

 

Tom Catanha – Eu fiquei como centroavante no Ypiranga por 19 anos e minhas características era raça, técnica com a bola, tinha uma saída rápida, cabeceio e velocidade, e quanto mais alto fosse o zagueiro, mais eu achava bom. Eu não tinha a ganância de gols, se eu visse um companheiro meu na área melhor posicionado, eu pretendida dá o passe pra ele fazer o gol, do que eu tentar.

 

Blog – Você era tido com um jogador que não tinha vícios e que mantinha uma vida saudável. Em sua opinião, o que esse cuidado pode contribuir para o rendimento dos atletas em campo?

 

Tom Catanha – No Ypiranga, todos obedeciam ao treinador Surubim, ele era como um pai para a gente. Aconteceu até uma história engraçada para entender melhor essa minha resposta, um time de Lajedo veio jogar aqui em Santa Cruz e passaram um trote e fomos informados que eles não viriam mais e que, teria morrido a mãe do técnico. Com isso, Pão Doce, que era a única pessoa que tinha um telefone naquele tempo, ele saiu passando na casa de todos dizendo que não iria ter o jogo, quando foi no início da tarde, os times chegaram e então todos os os jogadores estavam nas residências de seus familiares, o que eu quero dizer com isso é que quando não tinha jogo do Ypiranga, ninguém iria jogar nas peladas por ai, pois nós tínhamos o Ypiranga como se fosse um time profissional, como se fosse à casa da gente, era uma família e tudo isso contribuía, quando terminava uma partida e até após os treinos, não tinha essa história de irmos para as bebedeiras, terminava o jogo, depois do banho cada um iria para as suas residências.

 

 

Tom CatanhaBlog – Em 1979, a Revista placar trazia em sua página central, uma matéria sobre um duelo entre Ypiranga e Atlético Caruaru (atualmente o Porto), que tinha como foco o novo uniforme da equipe caruaruense. Quais os critérios para a escolha do Ypiranga nesta partida comemorativa?

 

Tom Catanha – O Ypiranga sempre foi um time bastante conhecido na região e em Pernambuco, então quando o Porto, Central, Santa Cruz, Náutico e Sport, iriam começar um campeonato eles vinham sempre para Santa Cruz do Capibaribe para fazer um jogo amistoso contra a gente, até porque o nosso time jogava e deixava o outro jogar, não batíamos, não errávamos o toque de bola, o tanto quanto esses times profissionais atualmente erram. Por isso neste ano, o Porto encolheu jogar contra nós e tivemos a honra do Porto vir fazer essa troca de camisa aqui e, que inclusive veio o pessoal da Revista Placar fazer uma matéria e tem até uma foto minha disputando a bola.

 

Blog – Qual foi o momento mais importante da sua carreira?

 

Tom Catanha – O momento mais importante foi quando o Santa Cruz do Recife veio jogar aqui em Santa Cruz do Capibaribe, aonde veio o zagueiro Ricardo Rocha. Eu soube que o treinador teria dito que o Ypiranga teria um centroavante muito bom e que iria colocar o Ricardo para me marcar. Durante todo o jogo ele (Ricardo Rocha) ficou no ‘meu pé’ e eu insistir tanto que eu conseguir fazer um gol e, a nossa equipe venceu o jogo por 1 a 0 e, eu fui escolhido como o melhor da partida.

 

Blog – Quais os melhores atletas que você jogou contra ou mesmo a favor?

 

Tom Catanha – Joguei contra o Ivan, que foi ex-goleiro do Palmeiras e Neto Surubim pelo Náutico. Jogando ao lado, eu posso destacar Domir, Tantinha, Flávio Balbino, Zé do Pará, Marinho e também tinha o Papaco, que era o Neymar daquele tempo, e ele driblava com as duas pernas e sem olhar para a bola, ele apenas olhava para o rosto do adversário e driblava. Eu admirava muito esse pessoal e eles me admiravam pela minha simplicidade, pois eu era uma pessoa tímida e muito sorridente pra todos. Eu também admirava o Tantinha, ele tinha 1,60 cm e tinha um bom impulso, conseguia subir cerca de 2 metros e meio, outro bom também foi o Carlos Axé que era um centroavante muito bom que passou pelo Ypiranga, Central e foi até para Portugal, esses que citei eram jogadores de atuar em times grandes do estado como o Sport, Náutico ou Santa Cruz.

 

Ypiranga-PE

Em pé: Surubim (técnico), Dantieli, Rubens, Barrão, Quinha, Caboré, Zé Maria, Zezito (auxiliar); Agachados: Marcos (auxiliar), Tom, Wellington (garoto), Nêgo, Flávio, Marinho, Heleno, Marcondes Moreno (fotógrafo).

 

Blog – Como era a personalidade de Surubim como treinador da equipe?

 

Tom Catanha – Ele era um pai de todos, gente boa e nós obedecíamos oque ele pedia e era muito ignorante, mas a gente sabia lidar. Um dia, chegou um jogador para defender o Ypiranga e disse que só jogaria no time se pagasse como se fosse hoje, em torno de R$ 5 mil, então Surubim perguntou, ‘você faz quantos gols por partida?’, e o atacante disse ‘eu não sei’, então Surubim respondeu, ‘então eu também não quero’, e quando vejo esses grandes contratos em me lembro sempre de Surubim.

 

Blog – Como era dividir o futebol da música, já que você vem de família tradicional de músicos?

 

Tom Catanha – O futebol e a música nós podemos misturar nas viagens. Quando a banda iria tocar aos sábados, eu pedia ao pessoal da banda que me liberasse no sábado, para que eu pudesse estar concentrado, bem e sem sono para servir o Ypiranga no dia seguinte. 19 anos da minha vida foram dedicados ao Ypiranga, eram nas quartas e sextas-feiras, treinos e jogos aos domingos, isso era toda semana e minha vida foi dedicada ao Ypiranga.

 

Tom Catanha

Final da década de 1980. Atacante Tom em destaque.

 

Blog – Quais foram as suas principais proposta que você recebeu e o que lhe motivou a abandonar o futebol?

 

Tom Catanha – Eu tive uma proposta do Santa Cruz, inclusive até o técnico Cidinho veio me buscar umas duas vezes, então falou que eu me preparasse e que com 30 dias voltaria para me buscar, ele veio, só que eu pedir para me preparar melhor e terminei não indo. Em seguida, Gordo de Raimundo do Brejo, disse ‘eu lhe levo para o Náutico’, então Gordo viajou e não retornou, mas eu também não o cobrei. O Central veio umas três vezes, mas eu gostava tanto de Santa Cruz do Capibaribe e do Ypiranga, que preferir ficar por aqui, eu nunca passei dez dias fora da minha cidade.

 

Blog – Qual o seu maior orgulho atuando pelo Ypiranga e a maior decepção no futebol?

 

Tom Catanha – Meu maior orgulho foi ter jogado contra o Ricardo Rocha, um jogador que foi tetra campeão do mundo, capitão da seleção, e para completar eu fiz um gol jogando contra ele. Já a minha maior decepção é sobre o Ypiranga atual, porque não considera nenhum dos atletas, nunca fez uma homenagem de nada para a gente. Eu até agradeço ao Soares da AABB, que fez no último dia 7 de setembro uma homenagem, quando ele convidou os ex-atletas para desfilar na Avenida 29 de dezembro, junto com o pessoal das escolas, mas quando ele me chamou faltavam dois dias para o desfile e já estava com uma viagem programada com a minha família, e pensei ‘deixar a minha família de novo pelo Ypiranga, onde eu passei dezenove anos, dessa vez não, mas de outra vez você me chame que eu vou’ e para mim foi um coisa muito bonita que ele fez pelo pessoal do Ypiranga e, não o clube que fez.

 

Tom atualmente trabalhando como barbeiro.

Tom atualmente trabalhando como barbeiro.

 

Blog – O que atualmente Tom Catanha faz na vida?

 

Tom Catanha – Eu hoje trabalho de barbeiro, depois que meu irmão (Raimundo) faleceu, eu cortava cabelo do meu filho, dos cunhados e amigos em casa, então a barbearia começou a encher de clientes e os meus irmãos disseram ‘venha para cá que a gente está precisando de um barbeiro’, e essa confiança já vem da família Catanha, e estou por lá graças a Deus há 17 anos. Eu também tenho um trabalho prestado a igreja católica, já trabalhei com o Pe Bianchi, Monsenhor Heleno, e os atuais padres, Joselito, Adriano e Carlos Augusto, e nunca aconteceu deles me chamarem para algo e eu dizer não. Eu faço parte da Pastoral da Família e do ministério de música, eu aprendi o dom da música e pensei ‘não vou parar, eu não quero tocar em festa nas ruas, mas vou me dedicar à igreja’.

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