09
julho

Artigo – Por Adriano Oliveira


PARA ALÉM DA CORRUPÇÃO

 

A prisão de um militar portando drogas em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) não permite a politização. O flagrante é grave e requer esclarecimentos. Mas não apenas isto. O Brasil precisa ir além do bolsonarismo e do lulismo. Infelizmente, as pessoas insistem em continuar nesta dicotomia enfadonha.

Em razão da Operação Lava Jato, a corrupção passou a ser, em 2015, o principal problema do Brasil, conforme variadas pesquisas de opinião revelaram à época. A Lava Jato possibilitou que a agenda da corrupção estivesse na opinião pública. Foi a Lava Jato que reforçou e ampliou o antilulismo e que permite a sobrevivência do lulismo e do bolsonarismo.

Enquanto a Lava Jato “corria” atrás dos corruptos, o tráfico de drogas e as milícias estavam em pleno funcionamento e expansão. A Lava Jato e o conflito entre bolsonaristas e lulistas fizeram com que os principais desafios do Brasil fossem esquecidos. A Lava Jato inseriu na agenda dois raciocínios simplistas: a derrota do lulismo era a salvação do Brasil; e as derrotas eleitorais do PT e de outros partidos tradicionais representavam o fim da corrupção pública.

O desenfreado combate à corrupção, apesar de saudável, em parte, fez com que tráfico de drogas, milícias e desigualdade social fossem esquecidos da agenda política. O enfrentamento à corrupção predominou. Erro grave. Como revelei em Tese de Doutorado intitulada “Tráfico de drogas e Crime organizado: peças e mecanismos”, defendida em 2006, o comércio de drogas constrói estados paralelos, os quais foram combatidos, em particular no Estado fluminense, por milícias. Estas, por sua vez, são formadas ou apoiadas por agentes do Estado. O mais agravante: não existe forte presença de tráfico de drogas e de milícias sem a cooperação de atores estatais.

A criminalidade organizada presente no sistema penitenciário. Os assaltos a bancos. A interação entre organizações criminosas que atuam na região Norte e em outros países. Alta frequência de homicídios. Estes são desafios imediatos do governo Federal. Não basta ter como única agenda a corrupção. É preciso ir além.

Não fiquei surpreso quando membros do governo Bolsonaro e atores da oposição politizaram o evento “Cocaína no avião da FAB”. Qualquer fenômeno hoje é “explicado”, infelizmente, pela dicotomia lulismo versus bolsonarismo. E, enquanto isto, a mexicanização avança sobre a sociedade brasileira. Incluso, claro, as instituições, dentre as quais, as Forças Armadas.

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